segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Brasil precisa de compromisso de longo prazo, diz economista


por thais.heredia

 
Diante do agravamento da crise internacional, o ministro da Fazenda Guido Mantega intensifica os sinais de que o governo está preocupado e, pelo menos por agora, vai escolher o caminho mais responsável para lidar com os efeitos que o desmoronamento da economia mundial possa causar ao Brasil.



A novidade agora é um reforço de R$ 10 bilhões na poupança do governo para o pagamento dos juros da dívida pública este ano, o chamado superávit primário. Mas a lição de casa antecipada, apesar de positiva, adia mais uma vez a oportunidade que o país vive hoje de mudar a estrutura do gasto público do governo federal e abrir uma longa estrada de estabilidade para a economia.



“O anúncio é positivo, reforça o cumprimento das metas de superávit primário para este ano. Mas o esforço fiscal de curto prazo não é suficiente. O ideal seria ver uma regra nova que desse consistência fiscal para além do exercício de um governo. Porque quando a quando a demanda política bate à porta do governo é mais difícil. O que estamos vendo hoje é que, até o final do governo Dilma, só deveremos cumprir metas de curto prazo. Isso é claramente insuficiente para começar uma trajetória de queda de juros”, diz o economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria.



A semana começou com forte expectativa de que um novo aperto nos gastos públicos seria anunciado pelo governo. Durante a manhã desta segunda-feira, enquanto esperava pelas novidades, os negócios no mercado de juros futuros refletiram um aumento na probabilidade do Banco Central reduzir os juros já na reunião do Copom desta semana. Até o fechamento da semana passada era praticamente certo, para muitos agentes do mercado, que o BC não faria nada com a taxa Selic em agosto.



“Um novo aperto fiscal é positivo, mas não estava claro para o mercado se o anúncio do governo aumentaria a pressão sobre o BC para que começasse já a reduzir os juros. Depois da fala do ministro Mantega o mercado voltou a negociar os contratos futuros com a expectativa anterior de que a Selic só deve começar a cair mais para o final do ano”, diz um operador do mercado financeiro.



Segundo este operador, Mantega sinalizou uma “separação” das tarefas do BC e do governo para proteger a economia brasileira dos estragos da crise externa. “O aumento [do superávit primário] também viabiliza, no médio e longo prazo, a redução da taxa de juros. Quando o BC entender que é possível”, disse o ministro durante anúncio em Brasília.



A crise externa já deu provas suficientes do custo que uma desorganização fiscal por um longo período pode causar às economias. Lição que o Brasil aprendeu em outras ocasiões – e, como resultado, desfruta hoje de uma situação mais confortável que os países mais ricos. Mas o trabalho ainda não está completo.



Grande parte das mudanças mais profundas no planejamento fiscal do governo precisa passar pelo Congresso. Para o economista Felipe Salto, a presidente Dilma Rousseff precisaria ser capaz de responder aos desafios atuais sem jogar para a política monetária o esforço de, sozinha, conter os desequilíbrios no longo prazo.



“Seria muito importante que o governo fosse capaz de planejar um programa fiscal efetivo, com um planejamento que desse conta da meta fiscal por um período mais longo e da melhoria na qualidade da despesa pública”, avalia Salto.



Por que fazer já essa mudança? E o que seria possível fazer agora, que fosse mais fácil operacionalmente, capaz de criar um ambiente de estabilidade por mais tempo?



“O orçamento do Brasil é muito rígido, 90% das despesas são inflexíveis. O governo poderia incluir na Lei de Diretrizes Orçamentárias um dispositivo para fixar o limite de crescimento das despesas com pessoal, por exemplo, em dois pontos percentuais abaixo do crescimento do PIB para os próximos anos. É uma medida simples, que já mudaria a estrutura da política fiscal do país. Hoje, fazemos cortes de gastos com aumento de arrecadação e redução de investimentos. Se o governo deixar para fazer isso 2012 pode dar com burros n’água”, afirma Felipe Salto.



Em 2012 teremos eleições municipais no país. Os pleitos provocam esvaziamento do Congresso Nacional e um ambiente avesso a mudanças numa das peças-chave das campanhas pelo país: o orçamento público e a força dos políticos para ter acesso aos recursos que atendam suas promessas de campanha.

Governo quer impedir 'mergulho' do PIB por conta da crise, diz Mantega (Postado por Erick Oliveira)

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta segunda-feira (29) que a estratégia do governo federal, de aumentar a economia feita para pagar juros da dívida pública em R$ 10 bilhões neste ano, e permitir uma redução mais rápida da taxa básica de juros do país, visa impedir um "mergulho" do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em decorrência dos efeitos da nova etapa da crise financeira internacional.
"Acredito que a situação pode piorar. Em função disso, estaremos preparados para que [a desaceleração da economia] seja mais suave do que em 2008. Não queremos que haja aquele mergulho, que entre setembro e dezembro de 2008 [quando foi inaugurada a fase mais aguda da crise financeira, com o anúncio de concordata do banco norte-americano Lehman Brothers]. Queremos dar continuidade ao crescimento. Vamos ter crescimento neste ano e em 2012. Estamos tomando medidas cautelares e preparando a economia para que ela continue crescendo em um ritmo satisfatório", declarou o ministro da Fazenda.
Com o aumento do superávit primário, acrescentou o ministro da Fazenda, o BC estará em condições de responder, por meio da redução da taxa básica de juros, ao agravamento da crise financeira sem prejudicar o controle da inflação no país. "Queremos que se faça mais política monetária [cortes de juros] e menos política fiscal [reduções de tributos]", explicou ele.
Segundo o ministro, a economia brasileira ainda não perdeu seu dinamismo. Ele informou que segue trabalhando com taxa de crescimento do PIB entre 4% e 4,5% para 2011. Entretanto, ele não respondeu se mantém a previsão de crescimento, que está na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), de 5% para o ano que vem.
De acordo com Mantega, o governo está mantendo uma estratégia "vitoriosa" que é continuar com o esforço fiscal, via superávit primário, com a manutenção da economia em crescimento. "Continuamos seguindo uma trajetória vitoriosa, com um bom fiscal  e com crescimento da economia. Consideramos que, neste momento, fortalecer o fiscal é criar mais condições para o crescimento sustentável no país. Vamos continuar perseguindo nos próximos anos", afirmou.
"Estamos respondendo à situação internacional. Há uma piora do quadro internacional. Estamos nos precavendo sobre uma possível piora do cenário. Não teremos o mesmo destino dos países mais avançados. A crise internacional está em nossa linha de preocupação. Queremos criar uma proteção para que o Brasil continue em sua trajetória de desenvolvimento", concluiu o ministro da Fazenda.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mantega já admite crescimento menor do PIB neste ano (Postado por Erick Oliveira)

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que o crescimento da economia brasileira pode ser menor neste ano. Até o momento, ele vinha prevendo uma taxa de expansão de pelo menos 4,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2011. Durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal nesta terça-feira (23), porém, ele admitiu que o crescimento pode ficar em 4%, mas não abaixo disso.
Mantega comentou o resultado do IBC-Br do Banco Central. O índice registrou a primeira queda, em junho, desde o fim de 2008. No segundo trimestre, os dados do IBC-Br, considerada uma "prévia" do PIB registrou alta de 0,69%, contra um crescimento de 1,13% nos três primeiros meses deste ano - na comparação com o fim de 2010.
"O IBC-Br é uma previsão. Mas, de fato, a economia vem se desacelerando porque o governo vem promovendo essa desaceleração. Em 2010, cresceu 7,5% e o governo tomou várias medidas, principalmente monetárias [subida da taxa de juros pelo BC], para desacelerar. Devemos ter um crescimento de 0,8% no segundo trimestre. Contra um crescimento de 1,3% [do PIB] no primeiro trimestre. É uma trajetória já esperada. No terceiro trimestre, teremos uma economia menos acelerada", afirmou o ministro.
Mantega diz que o Ministério da Fazenda segue prevendo uma expansão de 4,5% para 2011, mas confirmou que a expansão pode ficar abaixo disso. "Não acredito que vá além [menos] de 4% [o crescimento do PIB em 2011]. Não é mal para um ano de transição [para um processo de crescimento sustentado da economia]. É suficiente para continuar gerando arrecadação e o primário [economia feita para pagar juros da dívida pública]", declarou ele.
O próprio mercado financeiro vem reduzindo, nas últimas semanas, sua previsão para o crescimento da economia brasileira neste ano por conta dos efeitos da segunda etapa da crise financeira internacional - que começou após as dificuldades do presidente dos EUA, Barack Obama, em aumentar o limite de endividamento do país, e o subsequente rebaixamento da nota dos Estados Unidos pela agência de classificação de risco Standard & Poors. Para os economistas do mercado, o crescimento do PIB brasileiro neste ano ficará em torno de 3,9%.
Segundo o ministro Guido Mantega, o governo tomará medidas para evitar uma desaceleração maior do Produto Interno Bruto (PIB). "Se houver piora, tomaremos medidas para impedir que o nosso PIB caia e percamos arrecadação. Desta vez, julgamos que é mais importante usar instrumentos monetários [taxa de juros]. Temos muitas armas. Os juros, os compulsórios. Não deixaremos a economia cair. Tomaremos as medidas necessárias para que o PIB brasileiro continue crescendo", declarou.
Impacto no emprego
Com um crescimento menor da economia neste ano, o ministro da Fazenda acredita que haverá impacto na criação de empregos formais. Segundo ele, o número de empregos criados neste ano não será superior ao registrado em 2010, quando foram abertas 2,5 milhões de vagas com carteira assinada.
"O Brasil um dos países que mais gera empregos no mundo, em termos proporcionais. Em 2010, foram gerados 2,5 milhões de empregos. Neste ano, vai gerar menos. É natural que, com a desaceleração da economia, o número de empregos seja menor. Deveremos estar gerando novos empregos, mais do que suficientes para absorver os jovens, mas menos do que no ano passado e retrasado", declarou ele.

domingo, 14 de agosto de 2011

Brasil depende da China para evitar crise econômica


O País tem um mercado interno robusto, o que limita o contágio externo, mas a situação asiática é seguida com lupa


No mercado financeiro, o Brasil é considerado hoje um "derivativo" da China. Derivativos são contratos cujos preços dependem da cotação de outro ativo. "A performance do mercado brasileiro é muito ligada à China. O Brasil tem o ônus e o bônus dessa relação", diz Ricardo Lacerda, presidente da BR Partners, uma das principais empresas de fusões e aquisições do País.

Traduzindo para a economia real: se a crise nos Estados Unidos e na Europa atingir a China, o Brasil será castigado. A percepção dos investidores vem do aumento da dependência do País em relação ao gigante asiático depois da quebra do Lehman Brothers em 2008. O apetite chinês garantiu a alta das commodities em meio à recessão global, reduzindo a vulnerabilidade externa brasileira.

Nos 12 meses até junho, o Brasil teve déficit em conta corrente (inclui todas as transações com exterior) de US$ 49 bilhões, ou 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Sem o "efeito China" da alta das commodities, o superávit comercial se transformaria em déficit e o saldo negativo da conta corrente chegaria a US$ 89 bilhões, ou 4% do PIB, revela cálculo da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

É por isso que a economia chinesa está no radar do governo. Segundo uma fonte do Ministério da Fazenda, o Brasil tem um mercado interno robusto, o que limita o contágio externo, mas a situação asiática é seguida com lupa. "A China é o ponto mais crucial, porque afetaria a economia real imediatamente", disse o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, esta semana em Brasília.